domingo, 26 de dezembro de 2010

Protegido

As palavras que não foram concebidas só fazem sentido contigo.
São aquelas que eu quero dizer, mas não preciso.
Aquelas que eu quero escutar, mas não aguardo por elas.
As coisas só existem porque falamos delas.
Então cala-te. 
Cala-te! Não quero que nosso amor exista. 
Amo-te nas idéias, pra que nada existente possa contaminá-lo, nada existente possa tocá-lo. 
Falarei do espaço, assim ele existirá entre nós. Nada melhor do que a distância, que separa nossa monotonia e aproxima nosso anseio. 
Entenderá que o que eu quero não pode ser formulado? 
E quando sussurro sorriso, vejo tua luz existindo... Pra mim.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Meu

Sabe sentir o cheiro do amargo?
Sabe deixar que a torneira continue pingando?
Ensine-me.
Ensine-me como não me sentir mergulhado em água quente, quando almejo o que não posso ter.
Ensine-me como fechar os olhos e escutar, sentir que tudo em volta de mim se movimenta.

Já não sei se o meu ambiente me induz... ou se meu corpo não consegue mais suportar. 
De onde vem essa força que me arrebata, ela retorna. Faz de mim brinquedo nas ondas. Traz pra mim só letargia.
Tira de mim essa bolha que você implantou. Tira de mim esse invólucro que você esqueceu de preencher.

Entre meu corpo e minha mente existe um abismo, é nele que pulo, nele que me perco...
Quero vestir tua blusa larga, sentar no meu canto, tocar seu violão e respirar minha posse.
Sabe não sentir ciúmes?

domingo, 5 de setembro de 2010

Só as vezes

As vezes brinco de palhaço, pra você rir do que não conhece.
As vezes dou o meu melhor, pra você se surpreender.
As vezes te ignoro, pra você ver que não me apetece tanto.
As vezes sou teu, só as vezes.
Então percebo que eu não me pertenço. Eu não tenho o direito da primeira pessoa do singular.
Eu brinca de palhaço, eu dá o melhor, ignora, eu, mas só as vezes.
Como quando se exercita fisicamente e se bebe água gelada. Por mais devagar que se beba a água, que a sinta passar pelos lábios lentamente, tocar a língua, chegar na beira da garganta, ela se perde. Como quando se engole. Aquela cambalhota, indescrítivel, assustadora, inteligível! A água se perde, em si, em mim e até mesmo eu, palco principal do ato, não sei descrever.
Aí eu desespero, por um minuto, coloco as mãos no rosto e o calor que sai delas me faz rir.
Passo os dedos na sombrancelha e sinto o que não sinto todo dia: Meu corpo também não me pertence. Talvez nem a água que eu beba me pertença.
Passa-se o impulso e você me pertence. Isto porque eu quero, quero agora, antes que eu desista.
Durmo pra me abster de mim, abster-me de ti.
Então sonho que tudo é uma questão de escolha, sem verbo ter, sem verbo pertencer.
Quando brinco de ser teu é porquê já te tenho, mas só as vezes.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Eu rio

Gargalhada suja. Sorrir, o velho e espontâneo vinco no rosto.
Os traços falam por ti. Fundos e curvos te retratam com prazer, o prazer de quem deixa transparecer o momento.
Os risos que reboam são amontoados de risos absorvidos. A intensidade manifesta em som.
A respiração pontua, por hora falta, mas sempre alimenta o sangue que te faz corar.
Os olhos se contraem sem muito esforço, os músculos relaxam sem muita sincronia. Alguns contraem. O corpo por vezes se inclina.
Os motivos? São diversos. Simples ou complexos. Ri-se de nervosismo, ri-se para não chorar, ri-se de coisas tão simples, assim como chora-se de alegria.
Me pergunto às vezes, se as rugas dos idosos são de rir ou de chorar.

Revoltante prepotência

Pra quê viver? Esta pergunta não me cabe.
Cabe Àquele que me fez... que me brinca, que me ilude, que me mantém ignorante e que me é.
Eu me fiz num constante processo de criador-criação. Ele sou eu e eu sou ele. Quando me conforta, jogo a culpa nele, quando lhe conforta, ele me agradece...por não levar a culpa sozinho.

Adolescente

Precisar de amor é ridículo
Precisar de aprovação
'Precisar' é ridículo
A gente tinha que se sentir completo
O tempo todo
Precisar de nada.

Nascer

"Estar morrendo" é tão bonito, não acha ?
Você se torna puro, essencial, admirável, nostálgico. Tudo isto quando você está morrendo, mesmo que não mereça.
Será que quando eu estiver morrendo haverão pessoas chorando nos cantos, com saudade dos meus tapas?
Será que vão me sorrir confortavelmente? Será que vão querer se sentar do meu lado e guardar a última imagem minha, fora de um caixão ?
Estranho. Tomara que não.
Não quero morrer puro, admirável, nostálgico, porquê tudo isso dá dó.
Quero morrer amargo, inconcebível, intratável. Quero morrer de uma vez, na pior das minhas crises e alguém pensará 'bem feito'.
Perfeita, a minha morte.